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Sobre Simplicidade e Sabedoria - Rubem Alves

Pediram-me que escrevesse sobre simplicidade e sabedoria. Aceitei alegremente o convite sabendo que, para que tal pedido me tivesse sido feito, era necessário que eu fosse velho. Os jovens e os adultos pouco sabem sobre o sentido da simplicidade. Os jovens são aves que voam pela manhã: seus vôos são flechas em todas as direções. Seus olhos estão fascinados por 10.000 coisas. Querem todas, mas nenhuma lhes dá descanso. Estão sempre prontos a de novo voar. Seu mundo é o mundo da multiplicidade. Eles a amam porque, nas suas cabeças, a multiplicidade é um espaço de liberdade. Com os adultos acontece o contrário. Para eles a multiplicidade é um feitiço que os aprisionou, uma arapuca na qual caíram. Eles a odeiam, mas não sabem como se libertar. Se, para os jovens, a multiplicidade tem o nome de liberdade, para os adultos a multiplicidade tem o nome de dever. Os adultos são pássaros presos nas gaiolas do dever. A cada manhã 10.000 coisas os aguardam com as suas ordens (para isso existem as a...

Normose - Martha Medeiros

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Quanto mais a vida se torna truculenta, mais necessidade temos de buscar paz de espírito, o que explica o interesse crescente por crenças como o budismo e práticas como a ioga, que, cada uma a seu modo, procuram trazer a pessoa de volta para seu eixo interno, para um estado de relaxamento e de encontro com a felicidade através das coisas mais simples. Lendo uma entrevista do Professor Hermógenes, 86 anos, considerado o fundador da ioga no Brasil, ouvi uma palavra que eu nunca tinha escutado, mas me pareceu muito procedente: ele disse que o ser humano está sofrendo de normose, a doença de ser normal. Todo mundo quer se encaixar num padrão. Só que o padrão propagado não é exatamente fácil de alcançar. O sujeito "normal" é magro, alegre, belo, sociável e bem-sucedido. Quem não se "normaliza", acaba adoecendo. A angústia de não ser o que os outros esperam de nós gera bulimias, depressões, síndromes do pânico e outras manifestações de não enquadramento. A pergunta a ser ...

Sermão do Mandato - Padre Antônio Vieira

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"…sobre as palavras que tomei, tratarei quatro coisas, e uma só. Os remédios do amor e o amor sem remédio…" Padre Antonio Vieira (1608-1697) Primeiro Remédio O Tempo Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo digere, tudo acaba. Atreve-se o tempo a colunas de mármore, quanto mais a corações de cera! São as afeições como as vidas, que não há mais certo sinal de haverem de durar pouco, que terem durado muito. São como as linhas que partem do centro para a circunferência, que, quanto mais continuadas, tanto menos unidas. Por isso os antigos sábiamente pintaram o amor menino, porque não há amor tão robusto, que chegue a ser velho. De todos os instrumentos com que o armou a natureza o desarma o tempo. Afrouxa-lhe o arco, com que já não tira, embota-lhe as setas, com que já não fere, abre-lhe os olhos, com que vê o que não via, e faz-lhe crescer as asas, com que voa e foge. A razão natural de toda esta diferença, é porque o tempo tira a novidade às coisas, descobre-lhe...

Envelheço

Envelheço. Aos poucos, vou me tornando antigo. Os cabelos alvejam, a pele afina, o olhar acalma. Sou noviço, mas quero ser o melhor aprendiz de uma nova fase de vida; fase em que as despedidas são numerosas e os encontros espaçam. Quando as saudades ganham força e as nostalgias, freqüência. Aprendo a encarar os limites. Não me atrevo a algumas peripécias: subir em prancha de skate, brigar no trânsito, viajar pedindo carona, tomar banho de praia sem bloqueador solar, querer ser político. Aprendo a ter calma. Conto os anos e percebo que, na grande crise ambiental de 2050, não estarei mais aqui. Mas não me afobo. Domei os ímpetos, reavaliei as empreitadas juvenis, agora vou sem pressa. Obrigo o relógio da alma a caminhar com lentidão. Destrincho os compromissos, sacudo as agendas e sacralizo o ócio. Presenteio-me com a irresponsabilidade. Consciente, proscrastino. Aprendo a ser sensível. No passado, engolia o choro, disfarçava a tristeza, fugia da melancolia. Fiz as pazes com as lágrimas....

Um buraco para a alma!

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Alguns mais próximos me perguntam por que parei de escrever. Outros, talvez por desconhecerem esse viés particular, me perguntam por que não começo a escrever. De uma forma ou de outra, a verdade é que sempre tentei fazer das palavras alma, ou alma com as palavras. A seqüência efetivamente não importa, porque quando expressas elas se misturam de tal maneira que tudo parece tornar-se atemporal. Deixando de lado as (pseudo) justificativas que acompanham a sociedade considerada “moderna”, como o conhecido jargão ‘falta de tempo’, o fato é que 2011 foi definitivamente ano ímpar...muitas novas experiências me impactaram e me mobilizaram; talvez, pela primeira vez, senti a vida passando por mim, como se pudesse ser incapaz de acompanhá-la como sempre aconteceu. Esse movimento todo trouxe grande potencial espiritual, assim como certa reclusão. Independentemente dos supostos motivos que me levaram a mais essa necessária experiência, cá estou tentando resignificá-la. As palavras abrem ess...

Unifesp: Levantamento inédito sobre o consumo de drogas entre estudantes de escolas privadas paulistanas

Pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) divulgaram, nesta segunda-feira (7/6), um levantamento inédito sobre o consumo de drogas entre estudantes de escolas privadas paulistanas. O estudo – que contou com apoio da FAPESP por meio da modalidade Auxilio à Pesquisa Regular – teve a participação de 5.226 alunos do 8º e 9º ano do ensino fundamental e dos três anos do ensino médio, em 37 escolas. De todas as drogas o álcool se mostrou, de longe, a mais usada: 40% dos estudantes haviam bebido no mês anterior à pesquisa, enquanto 10% haviam consumido tabaco, a segunda droga mais prevalente. O álcool é também a droga que começa a ser consumida mais cedo, com média de idade de 12,5 anos. O primeiro consumo de álcool ocorreu em casa para a maior parte dos entrevistados: 46%. Segundo a coordenadora do estudo, Ana Regina Noto, pesquisadora do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid) da Unifesp, um dos dados que mais chamaram a atenção no levantament...

Respostas Precisas - Martha Medeiros

Quem é você? Do que você gosta? Em que acredita? O que deseja? Dia e noite somos questionados e as respostas costuma ser inteligentes, espirituosas e decentes. Tudo para causar a melhor impressão aos nossos inquisidores. Ora, quem sou eu! Sou do bem, sou honesto, sou perseverante, sou bem-humorado, sou aberto – não costumamos economizar atributos quando se trata da nossa própria descrição.Do que gostamos? De coisas belas. No que acreditamos? Em dias melhores. O que desejamos? A Paz Universal. Enquanto isso, o demônio dentro de nós, revira o estômago e faz cara de nojo. É muita santidade para um pobre-diabo, ninguém e tão imaculado assim! A despeito do nosso inegável talento como divulgadores de nós mesmos e da nossa falta de modéstia ao descrever nosso perfil no Orkut, a verdade é que o que dizemos, não tem tanta importância. Para saber quem somos, baste que se observe o que fizemos da nossa vida. Os fatos revelam tudo, as atitudes confirman. O que você diz – com todo respeito – é apen...