ENCARANDO A PRÓPRIA SOMBRA
ENCARANDO A PRÓPRIA SOMBRA
A maldade está em cada ser humano, diz guru brasileiro
CYNTHIA GREINER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Psicólogo que virou guru, o brasileiro Prem Baba está radicado na Índia desde 2002. Mas viaja pelo mundo todo, para participar de encontros que combinam meditação e ensinamentos a seus mais de 5.000 seguidores. Neste mês, está no Brasil.
A maldade está em cada ser humano, diz guru brasileiro
CYNTHIA GREINER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Psicólogo que virou guru, o brasileiro Prem Baba está radicado na Índia desde 2002. Mas viaja pelo mundo todo, para participar de encontros que combinam meditação e ensinamentos a seus mais de 5.000 seguidores. Neste mês, está no Brasil.
Prem Baba, que
segue a tradição Sachcha ("O Caminho do Coração") do hinduísmo,
cunhou o conceito de "matrizes do eu inferior" para explicar a
maldade humana, os impulsos inconscientes e o autoconhecimento.
Em entrevista
à Folha, o guru falou sobre o lado sombrio e as fraquezas de todo o ser
humano.
Não sabemos lidar com nossa própria maldade?
Prem Baba
- Somos levados a acreditar que a violência só acontece no coração dos
criminosos, dos terroristas, mas a maldade está em cada ser humano, dentro de
casa, na estupidez ou no desrespeito com o companheiro, com os filhos.
Mas o
desrespeito parece bem diferente da maldade. Qual a conexão entre os dois
pontos?
O que une é o
preconceito. São impulsos de ódio. E, mesmo que não se manifeste na intensidade
dos casos que lemos nos jornais, existe uma conexão. Todos temos o que chamo de
"matrizes do eu inferior": gula, preguiça, avareza, inveja, ira,
orgulho, luxúria, medo e mentira. São pontos escuros que fazem parte da
estrutura psíquica. São como entidades que agem à revelia da vontade
consciente. Alguns carregam essas partículas de energia de forma mais intensa,
mas o ódio de alguém que bate no outro não é diferente do ódio que sinto do meu
filho quando ele faz algo que não quero. É a mesma necessidade de controle.
O que
diferencia uma pessoa controlada de uma que perde o controle?
A formação, a
moralidade, as crenças que cada um desenvolve. Algumas pessoas não têm o filtro
que regula a manifestação da violência. Quanto maior a inconsciência a respeito
dos pontos escuros da estrutura psíquica, menos domínio temos sobre a atuação
deles. A consciência se expande gradativamente, é um desenvolvimento.
Qual o risco
de se deixar levar?
Criar situações
negativas para si mesmo e não conseguir mudar de direção. Por exemplo: a
vontade de equilibrar a vida financeira. Muita gente tenta de tudo, mas,
inevitavelmente, gasta mais do que recebe. A única possibilidade de interromper
o círculo vicioso é o autoconhecimento: ter disposição de olhar para si mesmo e
perceber que a responsabilidade está dentro de nós, e não fora. As sombras
precisam ser focalizadas e transformadas, porque sabotam a realização do que
queremos conscientemente.
Não há um
lado positivo na sombra?
É um mecanismo de
defesa. Protege o ser humano das dificuldades. Humilhação, abandono e exclusão
criam feridas profundas. Para sobreviver é preciso usar esses mecanismos
sombrios.
Como jogar
luz na sombra?
Primeiro passo:
identificando. O que faz um diabético comer açúcar? Ele tem que identificar que
existe dentro dele uma vontade de adoecer por algum motivo. Meu trabalho é
ajudar a identificar essa voz contrária. A primeira coisa a fazer é um
inventário de problemas.
Isso não é
nada fácil...
Não é, porque
você vai entrar em contato com dores profundas e difíceis de encarar. Por isso,
é mais fácil ficar amortecido nesse círculo vicioso. É preciso ter coragem de
admitir as imperfeições humanas, sem querer estar acima delas.
A
transformação leva à espiritualidade?
A espiritualidade
é uma realidade. Mas a realidade é aquilo que sobra depois que você se liberta
de todos os conceitos, de todos as ideias pré-concebidas e de todas as verdades
emprestadas. É o que eu costumo chamar de verdade irrefutável.